DO BLOG À VIDA

05/12/2013 15:15

DO BLOG À VIDA

 

1. Personagens Principais:

 

JORGE ANTONIO: O marido, o pai. 21 anos de casamento.

 

LAURA: A esposa, a mãe. 21 anos de casamento.

 

MARIANA: A filha, a blogueira. Tem 19 anos e é magoada pelo péssimo relacionamento dos pais. Usa o seu blog, Até que a vida nos separe, para desabafar.

 

RODRIGO: Estudante do interior que, auxiliado pela igreja, consegue uma bolsa de estudos e vem morar na cidade. O jovem sempre foi um romântico e acreditou na família.

 

 

Obs1: A Narração sempre corresponderá à voz de Mariana ao escrever no seu blog.

 

NARRAÇÃO: Sim, tenho uma família. Almoçamos juntos aos domingos, viajamos nas férias, temos os nomes uns dos outros em documentos importantes. Fora isso, somos muito infelizes. Meus pais nunca admitem e culpam minha faixa etária pelo pessimismo que tenho sobre nós. Tenho 19 anos, sou muito nova para entender muitas coisas da vida, não nego. No entanto, quando seus pais são dois estranhos que se odeiam, não dá pra ser otimista, não importa a idade.

Sim, odeio esses casos de família, por isso venho sempre da vida ao blog, partilhar as experiências que tenho na minha casa. Talvez assim eu ajude jovens que passo pelo que eu passo e, quem sabe, influencio garotas sonhadoras a não sonharem tanto assim. O “felizes para sempre” não dura para sempre de verdade e não é fácil viver em meio a castelos desfeitos.

Neste domingo fomos à igreja, como de costume, e ao final do culto o pastor veio com a história mais sem rumo que já vi: que éramos uma família bem estruturada!

 

 

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LAURA: Gostamos muito de sua palavra de hoje sobre o amor fraternal, pastor!

PR. CARLOS: Que bom, irmã. Aliás, sobre isso mesmo que queria falar com você e seu marido. Podemos conversar um instante?

LAURA: Claro. Jorge! O Pastor Carlos quer conversar conosco! (Jorge se aproxima)

PR. CARLOS: Como vai, irmão Jorge?

JORGE: Bem, pastor. Vou bem.

PR. CARLOS: Pedi para falar com vocês dois por que tenho um pedido muito importante a fazer. Hoje ministrei sobre o amor fraternal e espero que tenham entendido a mensagem.

JORGE: Não sei a Laura, mas com certeza eu entendi.

LAURA: Claro que eu entendi.

PR. CARLOS: A igreja está com um novo projeto muito bom em andamento, mas algumas coisas não saíram como planejamos.

JORGE: Então precisa de oferta?

PR. CARLOS: Não, filho. Preciso que exercitem seu amor fraternal. A igreja está construindo um abrigo para jovens do interior que vem estudar aqui. Vocês já devem ter ouvido falar do projeto. Fizemos um acordo com nossas igrejas filiais do interior, e os jovens mais esforçados, que tem vontade de estudar mas não tem família nenhuma na cidade poderiam vir e ter abrigo dado pela igreja.

LAURA: Que maravilha!

PR. CARLOS: Sim, no entanto, com a temporada de inverno a construção não conseguir avançar e agora o ano letivo vai começar sem o abrigo estar pronto.

JORGE: Que coisa ruim!

PR. CARLOS: Os jovens precisam começar as aulas assim mesmo, então estamos os abrigando na casa de alguns irmãos. Os que tem estrutura para receber mais gente, entende? Ainda falta lugar para um rapaz de 20 anos. Ele vem estudar administração na Universidade Federal, mas não pediu para ficar na residência estudantil quando abriu o prazo de inscrições por que já estava confirmada sua vaga no alojamento da igreja. É um rapaz maravilhoso, conheço ele e sua família muito bem.

LAURA: Então está pedindo que hospedemos o garoto em nossa casa?

PR. CARLOS: Sim, Irmã Laura. Eu mesmo só não o faço por que já estou hospedando outros 6 estudantes. O abrigo fica pronto em pouco tempo e tenho certeza de que el não dará trabalho algum. O que me dizem?

JORGE: Não liga, pastor, minha esposa é assim mesmo, só pensa nela. Claro que vamos abrigar o garoto.

LAURA: Você que só pensa em si mesmo! É claro que vamos hospedá-lo! Será um prazer!

PR. CARLOS: Vocês estão discutindo?

JORGE: Não, não estamos. Mas sabe que depois de 21 anos de casados, é assim que um casal conversa, não sabe?

PR. CARLOS: Não sei de nada disto.

LAURA: E quando o menino chega?

PR. CARLOS: Amanhã mesmo. Tenho certeza de que vocês se apegarão a ele facilmente.

JORGE: Ah, sim! E pode ser um amigo para a Mariana, ela quase não anda com ninguém.

LAURA: Acho nossa menina meio isolada, sabe, pastor... Sempre naquele blog dela, não tem muitos amigos no mundo real.

PR. CARLOS: Conversarei com ela depois. É uma boa menina.

LAURA: Certo. Aguardaremos o jovem então.

 

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NARRAÇÃO: O mundo tem mesmo tanta falsidade... Como meus pais aceitam receber uma pessoa de fora se vivem nesse inferno aqui dentro? Não pensam na vergonha que vão ter quando outros virem a farsa que essa família é. Por que o pastor acha que somos bem estruturados? Deve estar falando da casa ampla, da proximidade com a Universidade, do silêncio que um estudante precisa... Deve ser isso, não imagino outra razão para se trazer mais uma pessoa para sofrer aqui. Sim, odiei a ideia de ter esse garoto por aqui e torcerei todos os dias para que ele vá logo embora. Quanto menos souber sobre nós, melhor.

 

MARIANA: Como assim receber um estudante do interior?

LAURA: O pastor pediu e concordamos.

MARIANA: Isso não faz sentido!

JORGE: Por que não?

MARIANA: Essa casa não tem condição de receber ninguém.

LAURA: Nem pensei nisto na hora, minha filha. Se o inútil do seu pai tivesse construído o quarto de hóspede no fim do ano passado...

JORGE: Você lembra por que eu não construí?

LAURA: Claro que lembro! Porque você nunca quer melhorar nada aqui.

JORGE: Me poupe! Você gastou tudo com idiotices!

LAURA: Idiotices? Eu arrumei a frente da nossa casa, palhaço!

JORGE: Trocou tudo no jardim, você quer dizer! Acontece que eu não moro no jardim. Você queria se amostrar para os vizinhos? Conseguiu! Parabéns. Então não reclame.

LAURA: É sempre assim: “então não reclame”. Para você eu tinha que viver calada, humilhada, concordando com seus erros, mas está enganado, Jorge Antonio! Não será assim!

JORGE: Só queria uma esposa que se importasse menos com o que os vizinhos acham da frente da nossa casa!

LAURA: Estava ridículo! Casasse com outra então!

JORGE: Quando casamos você era menos materialista! Se soubesse que era só uma farsa, teria mesmo casado com outra.

LAURA: Então agora sou materialista? Até parece que sou eu que economizo nas ofertas para guardar dinheiro no banco.

JORGE: Preciso guardar dinheiro, já que tenho uma mulher que gasta mais do que tem!

LAURA: Você está cada dia pior, mas um dia vai pagar por tudo o que está falando.

JORGE: Não importa, não temos quartos extras então vamos ajudar o garoto com o que temos. A casa é grande, ele vai ficar bem.

LAURA: Ótimo... Agora vamos passar a vergonha de hospedar o rapaz no meio da sala.

MARIANA: Acho que essa não será a maior vergonha...

LAURA: Tem coisa pior do que o rapaz ficar com as coisas no meio da casa?

MARIANA: Depende... Não, se ele estiver acostumado com famílias que se odeiam.

JORGE: O que está dizendo, Mariana? Não nos respeita mais?

MARIANA: Vocês que não se respeitam, e trazer alguém que vem de longe, cheio de expectativas, para assistir a estas cenas que vejo todo dia é um grave erro. E então, vão encenar a familiazinha feliz ou vão se matar na frente dele?

LAURA: Você vai ficar de castigo e dou o seu quarto para ele.

JORGE: Não! A Mariana é sincera de mais para não falar o que pensa. Nisso se parece comigo. Deixe-a em paz. O garoto dorme da sala mesmo e, Mariana, tente ser gentil com ele.

 

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NARRAÇÃO: Não posso negar que meu pai é um bom homem. Em momentos como esse, em que extrapolo meu limite de paciência e coloco para fora o que sinto, percebo que ele não se ofende, mas tenta me entender e se colocar em meu lugar. Minha mãe não concorda com minha revolta. Diz que a relação dos pais não tem nada a ver com os filhos, mas meu pai sabe que ela está errada, sabe que me afetam e por isso releva muito do que digo.

Bem, não há nada mais que possa ser feito. O garoto vem mesmo, amanhã de manhã baterá à nossa porta e se eu soubesse seu número ligaria escondida só para dizer: “fuja enquanto é tempo”, mas não sei, então tenho que me conformar, nesta temporada teremos um hóspede.

No dia seguinte acordei cedo, mal dormi a noite inteira pensando em como o casamento dos meus pais tinha chegado ao fundo do poço, pensei que um dia se divorciariam e essa ideia doía mais que as brigas, então decidi deitar-me no sofá enquanto a sala ainda era sala e tentar não pensar em nada, mas foi nessa hora que a campainha tocou e o interfone trouxe a mim uma voz alegre que dizia:

- Oi, tem alguém em casa? O Pastor Carlos não pôde vir por que teve uma crise alérgica nesta noite, mas mandou o motorista me trazer com as recomendações. Bom Dia, Família Moraes, sou o Rodrigo!

 

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NARRAÇÃO: E lá estava ele. O garoto havia chegado e meus pais estavam dormindo. Eu teria a oportunidade de mandá-lo embora, sua presença ali não me agradava, mas tentei me acalmar e lembrar que essa escolha não cabia a mim. Abri a porta, recebi as recomendações e vi que eram mesmo as do Pastor Carlos. Respondi ao sorriso do garoto com um aceno e disse: “Entre, meus pais já vem recebê-lo.”

Não foi necessário nem chamá-los. Com a expectativa da chegada do garoto a qualquer momento, minha mãe estava com o sono bem leve e ao ouvir a porta se abrir acordou meu pai e logo foi abraçar o novo morador. Sr e Srª Moraes seriam muito bons para Felipe, não tenho dúvidas, mas eram prejudiciais um ao outro, o que é contra a ordem natural das coisas. Eu dei as costas, voltei ao meu quarto e fiquei a imaginar com qual dos meus pais moraria quando eles se separassem, mas nem cheguei a conclusão alguma, pois antes que terminasse meu raciocínio ouvi meus pais tendo a primeira briga do dia e tive que interferir.

 

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LAURA: Estamos muito felizes em receber você aqui, querido. Seu nome é... esqueci!

FELIPE: Felipe. Obrigada, senhora.

JORGE: Não precisa agradecer.

FELIPE: Sim, preciso, nem tenho palavras. Vocês nem imaginam o quanto essa oportunidade é importante pra mim. Meus pais estão muito orgulhosos e querem conhecê-los!

LAURA: Querem vir também?

JORGE: Não seja mal educada, mulher!

FELIPE: rsrsrs Na verdade querem recebê-los em nossa casa, se desejarem. É um lugar que vale a pena conhecer.

LAURA: Será um prazer! Bem, querido. Infelizmente você terá que dormir na sala, não temos quarto de hóspedes e...

FELIPE: Mas não há problema algum! Eu durmo em qualquer lugar, senhora, só me deixarem vir já é um favor impagável!

JORGE: Você é um bom menino. Deus te dê uma boa mulher!

LAURA: Desde que você seja um bom marido!

FELIPE: Amém! rsrsrsr Vocês são engraçados. A jovem que abriu a porta é filha de vocês?

JORGE: Sim... Minha Mariana. Desculpe a ausência dela. A menina é um tanto reservada... Não é de muitos amigos.

LAURA: Aliás, se puder fazer companhia a ela de vez em quando seremos muito agradecidos.

FELIPE: Ah! Claro, sem problemas.

JORGE: É uma boa menina, mas anda meio magoada conosco, então não se chateie se ela te destratar um pouco...

FELIPE: Destratar?

LAURA: Ela está zangada por causa do pai.

JORGE: Minha causa?

LAURA: Claro, você é a causa de tudo isso e nem percebe.

JORGE: Eu sou a causa? Você é a causa! Você que não contribui para que haja um dia de paz aqui!

LAURA: E você se importa com paz aqui? Você nem vive aqui! Passa o dia no trabalho e à noite mal olha na cara da sua família! Quer se aparecer na frente do Felipe?

MARIANA: Já? Pensei que tomariam café antes da primeira discussão do dia, afinal, temos visitas!

JORGE: Mari, não começa.

FELIPE: Bem, eu... nem sei o que dizer... Estão brigando por minha causa? Eu não quero ser um problema, posso ir embora...

LAURA: Não! Está tudo bem, Felipe! Você é muito bem vindo, muito mesmo! Perdoe a cena, se acomode, certo? Nos vemos mais tarde, vou ter que me arrumar para ir ao trabalho, com licença. (sai)

JORGE: É sempre assim... Não sei por que ainda estou nisso... Felipe, perdoe-me, se precisar de qualquer coisa é só me falar, não se preocupe com nada. Apesar da péssima recepção,l acredite, estamos felizes em recebê-lo... Dê-me licença. (sai)

FELIPE: Oi, Mariana. Então ficamos só nós agora... Como vai você?

MARIANA: Ah, qual é? Já percebeu que não é bom que fique aqui.

FELIPE: Como? Mariana, eu não quis causar isso tudo.

MARIANA: Claro que não... E não foi você. Eles passam por isso todo dia nos últimos 6 anos... Eles se odeiam. Não mentem quando dizem que estão felizes em recebê-lo, mas...

FELIPE: Mas você não gosta da minha presença aqui, certo?

MARIANA: Não é pessoal... Só não gosto que as pessoas vejam isso que você acabou de ver. É difícil pra mim.

FELIPE: Bem... Muitas famílias passam por isso, já vi várias vezes, não se preocupe comigo rsrsrs Mas já pensou se lá no fundo seus pais ainda se amassem?

MARIANA: Não amam... E não me diga que você é um romântico doente, casamentos se desfazem, só não precisava ser assim.

FELIPE: Não sou... Sou só um cristãozinho que ainda acredita no que Deus planejou para a família.

MARIANA: Eu sei o que Deus planejou, garoto! Mas as pessoas se desviam dos planos de Deus desde... Desde o édem!

FELIPE: Bom... Não precisa ser assim.

MARIANA: Que ótimo, aqui estou eu falando da minha vida pessoal com um estranho.

FELIPE: hahahaha Posso falar da minha se você quiser...

MARIANA: Não, obrigada! Adeus, vou deixar você arrumar suas coisas.

FELIPE: Mariana?

MARIANA: O que é?

FELIPE: Foi um prazer conhecê-la!

(Mariana não responde e vai embora irritada)

FELIPE: Ah, Deus... Parece que esse vai ser um longo semestre... Quando vim para cá sabia que poderia também ser útil em alguma coisa para essa família, só não imaginei que primeiro precisaria lembrá-los de que são uma família. Me dá graça, Senhor, pra trazer algo de ti para cá.

 

NARRAÇÃO: Ok, fui grosseira e confesso, fiquei com a consciência pesada. Mas tudo o que eu imaginei aconteceu. Meu pais brigaram na frente do hóspede e seguiram cada um para seu lado. Mamãe foi trabalhar, meu pai idem, à noite ele assistiria TV, ela visitaria as amigas e ao fim, depois de se despedirem de mim, cada um deitaria em seu lado da cama, com o muro de mágoas os separando, e sonhariam, cada um com seu mundo. No entanto, naquele dia tudo foi diferente do que de costume: minha mãe chegou mais cedo, só tomou banho e foi dormir e meu pai ao chegar foi para o jardim que ele odiava e sentou-se ao lado de Felipe, que estava a ler algum edital, sei lá do quê. Fiquei observando eles da janela do meu quarto e queria muito saber do que falavam... Eles estavam muito concentrados e nem notaram que eu os via.

 

JORGE: E então, como foi seu dia?

FELIPE: Foi bom, Seu Jorge. Arrumei minhas coisas, descansei um pouco depois dessa viagem longa e agora sentei neste jardim maravilhoso para ler este edital.

JORGE: Edital de quê?

FELIPE: É um seletivo de estágio... Já quero arrumar alguma coisa ajudar aqui, não quero só dar trabalho.

JORGE: Ah, Felipe, por favor, não precisa se preocupar com isso!

FELIPE: Não, preciso sim... Só me sinto bem desta forma.

JORGE: Tudo bem então. Diga-me, já falou com a Mariana?

FELIPE: Já sim! Ela é uma menina maravilhosa.

JORGE: Sério?

FELIPE: Não acha?

JORGE: Sim, eu acho, mas ela não estava muito feliz com sua vinda para cá rsrsrs Imaginei que ela lhe falaria algumas coisas desagradáveis.

FELIPE: rsrsrs Sim, ela falou... Mas pudemos conversar um pouco e... Entendo como ela se sente.

JORGE: É... Eu também. Você é um bom rapaz.

FELIPE: Obrigado.

JORGE: Quer dizer que gostou do jardim?

FELIPE: É lindo... Minha mãe iria ficar encantada aqui, ela ama flores.

JORGE: Foi a Laura quem mandou fazer... Na verdade, ela mesma desenhou cada detalhe desse lugar. Mas pra mim é uma idiotice, tínhamos coisas mais importantes para fazer.

FELIPE: Entendo... Senhor, sente-se à vontade para falar sobre seu casamento comigo? Sei que mal nos conhecemos, não quero parecer um...

JORGE: Felipe, depois do que aconteceu nesta manhã e do constrangimento pelo qual fizemos você passar... Sim, com certeza sinto-me à vontade para falar com você a respeito.

FELIPE: Por que se casou com ela?

JORGE: Boa pergunta! Hahahaha Ela é uma cobra, não é?

FELIPE: Não, senhor, estou falando sério mesmo rsrs Por que se casou com ela?

JORGE: Eu a amava.

FELIPE: E por que a amava?

JORGE: Não me lembro...

FELIPE: Esse é o nosso problema hoje... Com o tempo esquecemos o porquê das coisas boas que sentíamos. Vamos, tente lembrar, por favor!

JORGE: Ela era bem diferente do que é hoje... Era alegre, amável. Me olhar era a coisa que ela mais gostava. Me recebia com um abraço, dizia que eu era importante... Há alguns anos as coisas mudaram... Temos muitas responsabilidades, sabe? Quando as coisas vão mal ela me culpa, ela despeja em mim tudo de mal que ela conseguir falar e não se importa se estou cansado, estressado... Ela deixou de amar primeiro.

FELIPE: Sabe aquela comparação bíblica sobre amar a esposa como Cristo amou a Igreja?

JORGE: É difícil amar quando sua mulher não se importa com o que você sente ou pensa. No começo ela se arrumava pra mim, ela pensava em coisas para fazermos juntos... depois ela passou a se importar de mais com a casa, com as coisas... Bem... quando eu chegava em casa a encontrava cansada de mais para sairmos ou algo assim. Eu não me importava, amava ficar em casa com ela, mas ela estava cansada de mais só para sair, estava cansada pra mim também. Acho que perdeu o prazer em estar comigo. Com o tempo, qualquer bobagem se tornou motivo para uma discussão, aí a pessoa perde o prazer em estar em casa. Você é jovem, talvez um dia me entenda... Veja bem, eu sabia que assim que chegasse em casa minha mulher despejaria em mim tudo o que ela acumulou de furor durante o dia, então passei a passar mais tempo no trabalho... muito mais. Hoje ganho bem mais, mas é difícil haver um dia como neste em que estou em casa antes das 22h.

FELIPE: Bem... Quando Jesus se sacrificou pela humanidade ele não era bem tratado por ela rsrsrsrs A Igreja ama Cristo, mas Ele a amou primeiro.

JORGE: Não posso rebater seu argumento... Jesus fez isso mesmo.

FELIPE: Não desista do seu casamento, senhor.

JORGE: Já desisti.

FELIPE: Eu sei rsrs Sabe, vocês me lembram dos meus tios.

JORGE: Eram um casal maluco?

FELIPE: Eram sim hahaha E tinham uma só filha, como vocês.

JORGE: Moram na sua cidade?

FELIPE: Meu tio sim, minha tia... bem, ela já faleceu. Eles se amavam muito.

JORGE: E por que lembra minha relação com Laura?

FELIPE: Depois contarei... Quando vocês dois estiverem ouvindo.

JORGE: Vamos entrar? Mariana ia fazer o jantar, ela cozinha bem.

FELIPE: Vamos.

 

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FELIPE: O jantar estava ótimo, Mariana, és uma boa cozinheira.

JORGE: Já dá pra casar rsrsr

MARIANA: Jamais vou me casar! Boa noite (sai)

JORGE: É... Ela é mal humorada... Vou dormir também, filho. Boa noite.

FELIPE: Boa noite, Seu Jorge. Vou ficar lendo algumas coisas aqui ainda.

 

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LAURA: Ainda está acordado a essa hora, querido?

FELIPE: Estudando umas coisas, pensei que já tivesse dormido, Dona Laura. Acordei-lhe?

LAURA: Não... sempre acordo a essa hora para tomar um copo de leite...

FELIPE: Minha mãe também gosta.

LAURA: E seus pais são felizes?

FELIPE: Muito, mas nem sempre foi assim.

LAURA: Um... Desculpe por hoje cedo.

FELIPE: Sem problemas. D. Laura, posso lhe fazer uma pegunta?

LAURA: Pode sim.

FELIPE: Por que se casou com Seu Jorge?

LAURA: Bem, me faço essa pergunta todos os dias...

FELIPE: E que respostas encontra?

LAURA: Eu era tola... As mulheres sempre casam com mil sonhos que não se realizarão.

FELIPE: E como Seu Jorge era?

LAURA: Mais magro, mais bonito, menos rugas...

FELIPE: Não! rsrsrs Como era o Jorge namorado, o Jorge recém-casado...

LAURA: Ah, sim! Muito diferente, com certeza! Ele era gentil, carinhoso. Lembrava de mim sempre, nada passava em branco. Ele me achava bonita, me fazia rir, sonhava comigo. Ele era um homem maravilhoso.

FELIPE: É o mesmo homem.

LAURA: Não... Não é. Agora ele não se importa com o que sinto, com o que penso. Ele nem percebe minha ausência. Ele não se importa em me fazer rir, na verdade agora meu sorriso o incomoda.

FELIPE: Dona Laura, é o mesmo homem... Mas agora vocês estão há tanto tempo juntos que não há mais todo aquele encanto...

LAURA: Não mesmo!

FELIPE: Mas casamentos não precisam de encanto, isso é para filmes da Disney. Casamentos precisam de amor e de pedreiros.

LAURA: Pedreiros? Essa é nova para mim, por isso que me casamento não deu certo, faltaram os pedreiros! Rsrsrsrs

FELIPE: Exatamente... Não faltou amor, faltaram pedreiros. O casamento é como uma grande obra onde o amor é a matéria principal mas não basta. É preciso de pessoas que se esforcem, que trabalhem duro para que a obra seja feita e, principalmente, fique de pé depois de construída. É mesmo difícil... No inverno as partes sensíveis são abaladas, as goteiras trazem a tempestade para a parte de dentro, mas alguém precisa subir no teto e se molhar para concertar o que está quebrado e fazer as coisas darem certo.

LAURA: Você é poeta.

FELIPE: Deus que é... Ele planejou a família e planejou pra ser feliz, pra ser unida e inquebrável.

LAURA: As pessoas se desviam dos planos de Deus desde o...

FELIPE: Desde o Éden! A Mariana já me disse rsrsrs Mas desde quando Deus refaz alianças quebradas? Desde muito tempo também...

LAURA: Vivemos em um mundo em que as famílias...

FELIPE: Eu sei em que mundo vivemos, ele é horrível. Sugiro que faça uma arca e coloque sua família dentro enquanto o dilúvio devasta lá fora. Senhora, ainda ama seu marido?

LAURA: Como responderei a esta pergunta? (CHORA) Eu não reconheço mais meu marido então não posso dizer se o amo!

FELIPE: Certo. Então... Vou pedir-lhe um favor... Vamos amanhã à noite à praia?

LAURA: Eu e você?

FELIPE: Sim... Preciso lhe mostrar uma coisa, acho que vai lhe ajudar. Depois disso prometo nunca mais questioná-la a respeito de seu casamento.

LAURA: Felipe...

FELIPE: Sei que me conhece bem pouco, mas precisa confiar em mim!

LAURA: Bem, querido, sem problemas, mas não vejo em que será útil ir à praia.

FELIPE: Amanhã, 18h na praia. Vou dormir agora, se não se importar.

LAURA: Tudo bem, vá, filho, deve estar cansado. Boa noite.

FELIPE: Boa noite.

 

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NARRAÇÃO: Não me pergunte o que Felipe queria fazer, eu não tinha ideia. Na verdade ele já me irritava, para mim era um intrometido e isso fazia que meu humor fosse o pior com ele. Acabara de chegar e já queria resolver os problemas do mundo. Levar minha mãe à praia? Pra quê? Só entendi o que ele queria fazer no dia seguinte, quando ele chegou da faculdade e me chamou para conversar quando meus pais tinham saído.

FELIPE: Mariana, preciso falar com você!

MARIANA: Já está falando.

FELIPE: Preciso da sua ajuda, tenho um plano perfeito!

MARIANA: Vai fazer alguma besteira...

FELIPE: Quero que me ajude a levar seus pais à praia hoje.

MARIANA: Mentira?!

FELIPE: Sério!

MARIANA: Você tem problemas, só pode! Não percebeu que eles não gostam de estar um com o outro?

FELIPE: Isso pode mudar.

MARIANA: Ah, claro! Aí você vem do interior, coloca meus pais na praia, eles olham o mar e... pronto! Se amarão para sempre. Que tolo...

FELIPE: Você podia ser um pouco mais romântica!

MARIANA: Pra quê? Eu já sei o que vem depois do “felizes por enquanto”.

FELIPE: Acho que pode dar certo.

MARIANA: Nunca vai.

FELIPE: Podemos tentar.

MARIANA: Jamais conseguirá levá-los.

FELIPE: Não... Sozinho não posso. Mas com você sim!

MARIANA: Esquece.

FELIPE: Já convenci a sua mãe a ir comigo. Ela não sabe que o seu pai vai. Agora você o convida para ir sem saber que ela vai.

MARIANA: E The end ? Passam os créditos e começa o intervalo comercial. Que filmes você anda assistindo?

FELIPE: Você consegue ser irritante...

MARIANA: Você não os conhece! Eu cresci aqui, eu... ah! Não tenho que te dar explicações! (COMEÇA A CHORAR) Você não sabe nada, nem é dessa família, eu sou, você não! Coloca na sua cabeça, garoto, você não é dessa família!!!

(Mariana vai saindo mas Felipe a impede)

 

FELIPE: Tens razão, não sou desta família, mas acredito nela. Agora é preciso que alguém DESSA família acredite NESSA família. E tem que ser você, Mariana! Até quando vai se esconder nessa revolta? Sua família está desabando e você não faz nada para a salvar.

 

NARRAÇÃO: Naquele momento eu desabei. Era como se toda a minha vida passasse pelos meus olhos e eu percebesse que talvez eu pudesse ter feito algo antes, mas que calei. Chorei, chorei bastante, senti-me a pior pessoa do mundo e Felipe me abraçou. Não esperava que eu pedisse perdão, ele só queria que eu o ajudasse a nos ajudar e depois daquele abraço passei a sentir uma grande admiração por ele. Acho que era disso que eu precisava: um abraço e uma voz de esperança. Não sabia se daria certo, mas só com a remota possibilidade já estava feliz.

 

(Mariana pega o celular e liga para o pai. A voz de Jorge deve aparecer de fundo)

MARIANA: Alô, Pai!?

JORGE: Mari? Que foi?

MARIANA: Ainda está no trabalho?

JORGE: Sim filha, estou.

MARIANA: Pai, queria muito que o senhor saísse comigo hoje.

JORGE: Sair com você? Eu? Pra onde?

MARIANA: Para a praia...

JORGE: FIlha, que convite é esse? Você não gosta de praia e nem de sair comigo! rssrsr

MARIANA: Pai, por favor... É importante pra mim.

JORGE: Quer me contar que arrumou um namorado?

MARIANA: Não! hahahaha Só quero que você saia comigo, por favor... Faz tanto tempo que não saímos...

JORGE: Está certo. Que horas?

MARIANA: 18h.

JORGE: Ainda estou no trabalho a essa hora.

MARIANA: Pai... Sai mais cedo hoje, por mim...

JORGE: Um... Aí tem coisa. Está certo, vou me preparar psicologicamente para o que você deve estar querendo falar!

MARIANA: Pai! hahahaha

JORGE: Filhota, só vou conseguir chegar às 18 30min. É o máximo que posso fazer.

MARIANA: Tudo bem então.

JORGE: Se comporta, Mari!

MARIANA: Claro! Bjo

JORGE: Tchau.

(desliga)

FELIPE: Ótimo... Agora vamos combinar.

MARIANA: Você é meio cupido... hehehehe

FELIPE: Romantismo... É o que falta nas pessoas hoje. Veja bem, vamos levá-los normalmente até o centro da praia. Você pelo leste e eu pelo oeste.

MARIANA: Vai dar choque quando eles se encontrarem.

FELIPE: Vai sim, mas vamos sentar todos juntos, ler um trecho da Bíblia e orar. Depois, vamos mostrar a eles umas gravações que eu fiz.

MARIANA: Que gravações?

FELIPE: Gravei seus pais dizendo por que casaram um com o outro, sem eles saberem.

MARIANA: Como conseguiu fazer isso?

FELIPE: Não foi difícil. Só conversamos e eu gravei. Fim.

MARIANA: Espertinho. E então?

FELIPE: Enquanto eles ouvem as gravações nós sumiremos.

MARIANA: Como assim "nós sumiremos"?

FELIPE: Deixamos eles a sós, para conversarem.

MARIANA: E se não der certo?

FELIPE: Ao menos teremos tentado.

 

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NARRAÇÃO: E assim foi. À noite todos fomos à praia, mas meus pais não sabiam. Felipe deve ter falando ainda algumas coisas sobre relacionamentos com minha mãe e eu, pela primeira vez, tentei falar pacificamente a respeito com meu pai. Ao chegarmos no centro da praia os quatro, meus pais se viram e se mostraram irritados pelo fato de todos estarmos ali.

JORGE: Vai acontecer alguma festinha e não me avisaram?

LAURA: Pode me explicar o que você e seu pai fazem aqui, Mariana?

JORGE: Estamos conversando, pai e filha, muito normal. E O que vocês fazem aqui?

LAURA: Falei com a Mariana!

MARIANA: É tão ruim estarmos todos aqui? Ei vocês dois, não discutam, a praia é pública!

FELIPE: É que queríamos fazer um devocional especial.

JORGE: Suponho que os dois estejam juntos nisto, não é, senhorita Mari?

MARIANA: rsrsrsr Você queria que fossemos amigos.

LAURA: Devocional...?

FELIPE: Ora, somos todos cristãos, não somos? Pensei que seria bom nos reunirmos para meditar um pouco.

JORGE: Aqui? Chega, eu vou pra casa.

LAURA:Jorge, ele só quer buscar a Deus conosco. Vamos lá, você me odeia, mas ainda tememos a Deus, não?

JORGE: Eu não od... Ok! Vamos lá.

FELIPE: Sentem-se, vai ser maravilhoso. Quem quer orar?

MARIANA: Eu. 'Deus, te agradecemos por que estamos aqui, todos nós. Te agradecemos por que temos uns aos outros para partilhar momentos de alegria e tristeza, por que somos juntos como o cordão de várias dobras: bem mais difícil de quebrar. Fala conosco hoje, amém."

LAURA: Não sabia que você orava tão rápido rsrsrsrs

JORGE: Nem eu.

FELIPE: Bem... Eu sou só um garotinho do interior, que não sabe muita coisa da vida, mas fui acolhido tão bondosamente por esta família maravilhosa que não pude deixar de desejar um momento como este. Nós e esta paz da natureza. Prometi a Seu Jorge que contaria a história dos meus tios quando todos estivessem ouvindo. Posso contar agora?

LAURA: Por favor.

FELIPE: Meus tios eram um casal maravilhoso. Minha tia era irmã de meu pai e se chamava Leila. Meu tio, marido dela, chama-se Pedro. Eles casaram-se e foram felizes por cerca de 10 anos. Aí veio a crise Não preciso descrever por quê, eram os motivos de sempre, o fato é que eles se separaram e ambos continuaram seus caminhos à procura de outro companheiro. Mas, que engraçado, não encontraram. Por mais perfeita que uma mulher fosse, ela não parecia o suficiente com minha tia para que meu tio fosse feliz com ela e o mesmo aconteceu com tia Leila.

JORGE: Eles se amavam, então.

LAURA: Ou só estavam acostumados de mais um com o outro.

FELIPE: Os dois. Na verdade eles se amavam, mas já estavam tão acostumados um com o outro que esqueceram que esse amor ainda precisava ser cultivado. Quando você quer algo faz de tudo para conseguir, mas quando já tem, a preocupação acaba. Eles só perceberam isso depois e o legal é que se casaram outra vez! Mas neste segundo casamento eles prometeram que trabalhariam para conquistar um ao outro todos os dias, prometeram não se acostumar simplesmente um com o outro, mas sim protegerem-se, como se a qualquer momento pudessem perder-se um do outro; bem,eles podiam mesmo! E entendiam bem isso... Daí seguiram-se mais 7 anos dourados onde eles foram o casal mais feliz que eu já conheci. Depois eles sofreram um acidente e minha tia faleceu. Tio Pedro está viúvo e só se arrepende dos anos que perdeu antes de descobrir o que é amar de verdade. Ele vive só agora, sente falta até das brigas dela. Não quer mais casar-se outra vez, é como se minha tia fosse parte dele, uma parte que foi embora, um espaço que ele não quer mais preencher.

JORGE: Sinto muito... Eu... Nem tenho palavras.

FELIPE: Tudo bem, não precisa ter palavras agora, Seu Jorge. Mas contei essa história por que não quero ver vocês disperdiçarem por falta de vigilância os melhores anos das suas vidas. Vocês são pessoas tão especiais e tem uma família tão bonita... Sabe, na vida nós deixamos muitas coisas no meio do caminho, algumas delas não deveriam ter ficado para trás. O amor é complicado e desvirtuado pelo mundo, mas amor de verdade está em Deus e é puro e abnegado. O texto que quero ler é o de 1Co 13. Eu sei que ele não fala especialmente aos casados, mas fala de amor, na essência, e é isso que falta em nossos relacionamentos, todos eles:

 

1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine.

2 Ainda que eu tenha o dom de profecia, saiba todos os mistérios e todo o conhecimento e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei.

3 Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá.

4 O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.

5 Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.

6 O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.

7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

8 O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará.

9 Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos;

10 quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá.

11 Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino.

12 Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma com que sou plenamente conhecido.

13 Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor.

Tomem este MP3. Aqui estão as conversas que tive com vocês ontem. Gravadas. Ouçam e façam o que quiserem.

 

NARRAÇÃO: Meus pais estavam sensibilizados pela história e tocados pela Palavra. Não conseguiram falar nada. Eu e Felipe nos afastamos e de longe ouvi o MP3 começar a tocar e ecoaram na praia as vozes dos meus pais, no dia anterior, contando por que casaram um com o outro.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

JORGE: Então é isso... Foi por tudo isso que dissemos e por algumas coisas mais que nós nos casamos.

LAURA: Sim... Não sou mais essa mulher, Jorge, sinto muito.

JORGE: Nem eu esse homem, lamento. O que faremos? Acho que é a hora de nos divorciarmos e seguirmos nosso caminho.

LAURA: Deve ser mesmo o certo a fazer. Melhor que continuarmos nos ofendendo todos os dias.

JORGE: E poderemos ter um divórcio tranquilo. A Mari fica com quem ela achar melhor e você pode ficar com a casa.

LAURA: Posso?

JORGE: Pode. Prometi que lhe daria uma casa no dia em que pedi sua mão. Quero manter minha promessa.

LAURA: Jorge... Você me fez tantas promessas...Disse que me amaria para sempre, mas não amou.

JORGE: Laura, não complique as coisas, você sabe muito bem que...

LAURA: Não! Está tudo bem, não precisa se justificar. Já passamos dessa fase. Vamos nos divorciar e seguir.

JORGE: Certo.

LAURA: Mas não vamos nos casar de novo, como os tios do Felipe, não é?

JORGE: Como assim?

LAURA: Quer dizer... Por que você se casaria comigo de novo? Por muito tempo eu tenho me perguntado por que me casei com você e sinceramente me arrependi desta decisão. Mas há alguns segundos estou me perguntando por que VOCÊ se casaria comigo outra vez e cheguei à conclusão de que você não tem nenhum motivo para isso.

JORGE: Onde quer chegar?

LAURA: Eu também prometi te amar todos os dias e não assinei uma cláusula condicionando meu amor ao seu. Prometi te amar, simples, só amar, ainda que você não me amasse, mas eu falhei. Não sou mais aquela menina por quem você se apaixonou e preciso que me perdoe por esse divórcio que se aproxima. Não contribuí para que o nosso lar ficasse de pé e me importei com mil coisas quando só precisava de Deus e de você. Perdoa-me, fui uma péssima esposa. (CHORA)

JORGE: Laura... Também fui culpado, não fique assim, não culpe só a si mesma. Eu mudei também! Deveria ter te amado mesmo nos dias mais difíceis, ter sido paciente, ter lutado por nós. Eu deveria ter cuidado de você Laura, mas falhei. Eu que preciso do seu perdão.

LAURA: Deixamos muitas coisas no caminho...

JORGE: Deixamos...

LAURA: Então... Vamos acabar com isso, certo? Onde estão Felipe e Mariana?

JORGE: Laura! Ainda existe algo em você que queira lutar por nosso casamento?

(longo momento de silêncio)

LAURA: Com você eu vivi os mais belos momentos da minha vida. Não são coisas que se esquece tão facilmente.

JORGE: Responda à minha pergunta!

LAURA: Eu não quero deixá-lo, Jorge. Esta é sua resposta. Não suporto o jeito como vivemos, mas não queria que este fosse o fim. Ria de mim agora! Sei que sou tola.

JORGE: Acha mesmo que eu vejo graça no que você acaba de dizer? É a coisa mais bonita que você me disse nos últimos anos e, Laura, também não quero deixá-la. Você e a Mari são minha família.

LAURA: Não quer?

JORGE: Quero mudanças. Mas isso não significa acabar com nosso casamento se optarmos por fazer mudanças em NÓS!

LAURA: E por que estamos nos divorciando?

JORGE: Por que somos burros?

LAURA: Ou cegos.

JORGE: E não percebemos o quanto somos importantes um para o outro.

LAURA: Jorge! Há tanto tempo não ouço palavras tão bonitas... Você está certo! Você é importante para mim. O que vamos fazer então?

JORGE: Laura, (segura a mão dela) eu quero fazer-lhe outra promessa e esta cumprirei. Deixei o amor que tinha por você no caminho, perdido no meio de tudo o que passamos. Mas eu escolho amar você outra vez e PROMETO que desta vez vai ser pra sempre. Eu quero me apaixonar por você outra vez, e me importar com você mais do que comigo. Será assim. não vai ser fácil, estamos feridos, mas Deus estará conosco. Laura! Eu quero Deus em nosso casamento... Isso significa paz em tempos de guerra, amor em tempos de desamor. Quero um novo amor por você. Um que tudo suporta e tudo crê.

LAURA: Jorge... Sufoquei o amor que tinha por você com muitas mágoas. Eu soterrei esse sentimento com toda a nossa bagagem. Mas se vamos tentar outra vez e trazer Deus para esta relação, quero tirar do meu coração toda amargura e dor e deixar esse amor respirar outra vez. Eu não sei falar palavras tão doces quanto as suas, mas quero que saiba que, apesar de tudo... jamais poderia amar outra pessoa, ah! que boba eu sou, jamais poderia amar outra pessoa! E escolho hoje amar você outra vez! Eu quero amá-lo sem olhar meus interesses, me importar em fazê-lo feliz =D

 

NARRAÇÃO: Eu achava que a ideia de Felipe não daria muito certo, mas quando fui espiar meus pais vi que os dois estavam orando juntos, abraçados e chorando muito, o que me fez chorar absurdamente também. E foi assim, eles não disseram que se amavam, foram bem realistas, disseram exatamente o que sentiam, mas prometeram que lutariam para amarem-se outra vez e dessa vez queriam Deus no centro do seu casamento, guiando-os nas escolhas do dia a dia. Nem preciso falar como os dia que se seguiram foram maravilhosos. Era um processo que demoraria, aos poucos as coisas mudariam, mas para mim, foi bem mais rápido do que o esperado. Depois de um mês o abrigo da igreja ficou pronto e Felipe nos deixou, mas ele é uma amizade que levarei por toda a vida e a forma como ele nos marcou nunca será esquecida. Quando nos despedimos do nosso hóspede percebi que meus pais estavam de braços dados e eu soube que tudo ficaria bem. Felipe não é só um romântico, é alguem que acredita no plano de Deus para as famílias e ele está certo. É feliz a família em que JESUS CRISTO É O SENHOR! E agora eu que passei tanto tempo vindo DA VIDA AO BLOG para esconder-me do mundo e desabafar o que sentia, hoje volto DO BLOG Á VIDA, que está linda ali fora e precisa ser vivida. Esqueçam tudo o que postei. A verdade é só uma: é maravilhoso ter uma família e ver Deus transformá-la. Acredite em sua família, Jesus pode salvá-la.

Adeus amigos blogueiros,

Com amor,

Mari.

 

Do Blog à Vida. Leu? Interage aí! =D

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